A SALA DE AULA COMO AMBIENTE ALFABETIZADOR



O educador que tem como finalidade principal a aprendizagem de seus alunos. Deve proporcionar uma sala de aula que lhes permita ter acesso a diversos tipos de cultura escrita, com os quais possam interagir.

Uma das funções estabelecidas pelos PCNs para língua portuguesa é levar o aluno a “utilizar a linguagem escrita de modo atender as múltiplas demandas sociais, responder a diferentes propósitos comunicativos e expressivos e considerar as diferentes condições de produção de discurso”, ou seja, que o aluno além de alfabetizado, faça uso da leitura e da escrita em práticas sociais.

A partir dos anos 80, houve uma transformação no conceito de aprendizagem da escrita e da leitura. Ao invés de se preocupar “como se ensina”, o foco passou a ser “como se aprende”.

Anteriormente as crianças ingressavam nas escolas apenas aos 7 anos, e tinham um contato mais direto com a cultura escrita a partir desta idade. As historias eram contadas oralmente, não valorizando o material escrito. Hoje há uma grande diversidade de livros infantis, especialmente elaborados para crianças em processo de alfabetização.

O contato com a língua escrita acontece desde a infância, os próprios pais, mesmo inconscientemente, facilitam o processo de aprendizagem na medida em que proporcionam o contato com diversos portadores de texto.

A criança urbana cresce em meio a uma sociedade letrada, e está em contato com a linguagem escrita por meio de diferentes portadores de texto como livros, jornais, embalagens, revistas, cartazes, placas de ônibus, entre outras.

O grande desafio do educador é alfabetizar letrando, ou seja, proporcionar interações com a cultura escrita de forma que o aluno faça uso social da linguagem escrita, vista que, para vivermos em uma sociedade letrada é necessário sermos letrados. Para tanto, é indispensável, um ambiente alfabetizador na sala de aula.

Para compreender melhor o termo alfabetizar letrando, é necessário definirmos o que é alfabetizar e o que é letramento.

Alfabetizar é simplesmente ensinar a leitura e a escrita, o domínio do funcionamento do sistema alfabético, ou seja, saber ler e escrever convencionalmente.

Letramento é utilizar a escrita e a leitura em práticas sociais, como por exemplo, ler jornais e revistas, interpretar tabelas, contas de água , luz, preencher um requerimento, são alguns exemplos de vida cotidiana.

Segundo o Referencial Curricular para Educação Infantil, as crianças que são provenientes de famílias que a leitura e a escrita são marcantes, apresentam maior facilidade para lidar com as questões da escrita, do que aquelas que não têm este modelo de praticas de leitura em seu lar.

De acordo com Ana Teberosky, um ambiente alfabetizador “é aquele em que há uma cultura letrada, com livros, textos – digitais ou em papel – um mundo de escritos que circulam socialmente. A comunidade que usa a todo o momento esses escritos, que faz circular idéias que eles contêm, é chamada alfabetizadora”. Permitindo desta maneira, a inserção da língua escrita no cotidiano do alfabetizando, seja por meio de revistas, jornais, gibis, livros, cartazes, das palavras na lousa, ou de situações cotidianas, como outdoors, letreiro de ônibus ou metrô, caixas eletrônicos etc.

O ambiente alfabetizador, portanto, deve ser organizado de forma que se constitua uma ferramenta de aprendizagem, e que inclua diversos gêneros textuais, os quais devem estar acessíveis aos alunos e permitir uma interação com os mesmos.

Tal ambiente não valoriza apenas a aparência, o material escrito deve estar relacionado com as atividades desenvolvidas, de acordo com as necessidades dos alunos, o que possibilita as crianças construírem seu próprio conhecimento, e, neste processo dinâmico de aprendizagem, o professor é o mediador.



O construtivismo defende, basicamente, a ideia de que não há como integrar uma criança à leitura e escrita separando o ambiente material do ambiente social; já que as crianças precisam criar hipóteses e comprová-las para que haja o aprendizado. Cada indivíduo aprende a seu tempo levando em conta sua leitura de mundo, por este motivo, um determinado material é visto de maneira diferente por duas crianças, e até pela mesma em um processo distinto de aprendizado.

O ato de ler e escrever não são inatos ao ser humano e depende de um período de aprendizagem, passando da alfabetização para a escrita e da escrita para a capacidade de leitura.

As famílias enviam as crianças à escola para aprenderem a ler, para que possam aprender lendo. Essa expectativa dos pais deve ser assumida pela escola através das intervenções docentes e das práticas curriculares. É necessário o impedimento da fragmentação da língua, afastando o método tradicional da escola, que insiste em separar os materiais reais da sala de aula, ignorando a evolução e necessidade da sociedade contemporânea. A criança em posse destes materiais não recebe apenas estímulos escolares, mas também sociais, assim conseguindo relacionar os materiais que já estão disponíveis em casa com os disponíveis dentro da escola ela consegue aprender de maneira mais fácil, pois consegue enxergar o sentido da leitura.

Antes de entrar na escola as crianças já interagem com múltiplas formas de textos, mas é no início da alfabetização que elas passam a interagir de maneira mais sistematizada, tornando-se capazes de conhecer estruturas diversas, linguagens específicas, regras; exemplo: por que escreve, para que, para quem, quando acontece o fato, onde, como se escreve. O texto escrito se apresenta como objeto cultural dentro ou fora da escola e, por esta razão, precisa ser objetivo e apresentar singularidade.

Ler não implica apenas em que o leitor apreenda o significado, e sim, que consiga trazer para o texto lido a visão e experiência que possui, implica na interação direta entre leitor e texto, permitindo elementos para a construção de novos textos.

O aluno não lê para aprender a ler, lê para atingir objetivos, para viver e interagir com os outros, estimular o lúdico, ampliar os esquemas cognitivos através de pesquisas e projetos criados.

Quando se tem o objetivo de estimular a criança a descrever, falar sobre, e entender diversos tipos de leitura e escrita, é indispensável o uso de materiais de seu cotidiano; exemplo: folders e impressos públicos; jornais; revistas; rótulos de produtos domésticos, receitas, etc; assim como: gibis, contos de fadas, alfabeto, calendário, parlendas, rimas, textos instrucionais, etc...

O aprendiz desenvolverá interesse pela leitura e escrita através da percepção de sua importância. Os materiais precisam fazer sentido para o seu mundo e trabalhar, simultaneamente, diversos aspectos, desde a leitura e escrita até a sistematização e reflexão dos conceitos abordados. Estes estímulos tornarão o aprendizado não mecânico, permitindo que ao processo que o educando aprenda consiga encontrar significado no texto escrito.

As crianças que vivem em regiões urbanas possuem maior acesso à leitura e escrita; graças às informações disponíveis em seu dia-a-dia. Ao serem expostas à um mundo letrado, estas crianças passam a fazer a leitura de signos mesmo que ainda não saibam ler convencionalmente, são capazes de reconhecer a marca do refrigerante predileto, assim como a marca do produtos consumidos em casa, etc.

Segundo Ana Teberosky, os professores como guiadores deste processo possuem a responsabilidade de criar um ambiente alfabetizador rico em materiais apropriados, levando em conta o conhecimento prévio dos alunos, garantindo um trabalho contínuo e gradativo para o processo de aprendizagem.

A localização dos materiais escritos determina o nível de interesse que as crianças terão em manuseá-los. Por esta razão, os materiais escritos, sejam os das prateleiras da biblioteca ou os disponíveis em sala de aula, devem estar sempre ao alcance das crianças e nunca sobre quadros negros e armários.

É imprescindível que o professor escolha os materiais de forma criteriosa, visando garantir qualidade e atratividade, facilitando a compreensão das crianças. Este processo é possível através de materiais de linguagem simples, com clareza de ilustrações e sentidos, características de previsibilidade do texto, níveis de repetições e etc.

A troca do material em um ambiente alfabetizador é o termômetro que mostrará o desenvolvimento do trabalho. Logo, os materiais que permanecem sem troca, ao longo do curso, provam que não foram usados como ferramentas de ensino, mas simplesmente como objetos decorativos. Já, os materiais que são trocados periodicamente provam seu valor funcional e sua riqueza como recurso educativo.

A escola encarregou-se de sistematizar e organizar a alfabetização, criando mecanismos para ensinar a ler e escrever, porém, transmutou o ensino da escrita tirando a característica social transformando-a em objeto escolar apenas, esquecendo que aprender a ler e a escrever é importante na escola por ser importante para o mundo, mas não o contrário.


O ensino não acompanhou o progresso e continua engessando os indivíduos que nela permanecem sendo obrigados, desde a primeira série a repetir de forma mecânica um universo de exercícios que só os distanciam dos usos significativos da linguagem escrita e, até mesmo, da linguagem oral. Isso contribui para que o indivíduo tenha apenas a ilusão de alfabetização, pois uma vez que ele não consegue enxergar essas atividades fora da escola, passa a acreditar que tudo o que se espera dele é que ele cumpra os exercícios e desenvolva os métodos, e que ignore a apropriação que poderia fazer do uso da linguagem.

As atividades escolares são padronizadas e controladas pelo método e pelo currículo escolar. Os professores também possuem grande culpa neste processo, pois, muitos não param para tentar conhecer as diferentes hipóteses que passam pela mente das crianças, fazem apenas engessar estas idéias e calar as vontades. Não se dão conta, em momento algum, que estas crianças perderão o poder de criar, tornando-se escravos das práticas tradicionais, não sendo a eles permitido se aventurarem por caminhos mais autênticos e criativos, não poderão desenhar seu cachorro cor de rosa, nem sua casa voadora, pois tudo tem que ser aprovado e sacramentado pela escola.

Hoje as crianças no estado de São Paulo precisam ainda mais que as escolas criem um ambiente alfabetizador, pois vivendo em uma grande metrópole é indispensável que esses alunos, independentemente de sua classe social, consigam se fazer valer da escrita e da leitura, pois é lendo que se aprende e escrevendo que se guarda as informações para lembrar nos dias seguintes.

Ana Teberosky reforça a riqueza dos textos extracurriculares e a importância do “ambiente alfabetizador” rico em diversos materiais, sem restrições. Assim as crianças podem interagir com o seu mundo dentro e fora da escola, a leitura é um objeto do mundo e no mundo. Já, uma vez que a escola não apresenta a diversidade de textos que o mundo letrado oferece, mais deixa a errônea impressão de que os textos e a leitura se tratam de uma tarefa apenas escolar, tornando a aprendizagem fria e sem sentido. Quanto maior familiaridade a criança tiver com os textos, maior será a sua capacidade a adaptar-se a ele, identificando e criando hipóteses.

É necessário que os educadores percebam que as crianças não aprendem a ler e escrever apenas por que vêem os outros lendo e escrevendo. Elas só obterão este interesse uma vez que sentirem-se estimuladas, criando experiências, tateando o objeto de estudo, traçando possibilidades com os objetos que o meio lhe oferece. Mas também existe a necessidade de adultos-condutores que sejam capazes de estimular suas curiosidades e ajuda-los a conduzirem este processo de forma sistematizada.

Uma sala de aula não se caracterizará um ambiente alfabetizador por conta dos materiais que o compõe, mas sim, pelas ações voltadas para a leitura e escrita. O professor que se mostra leitor, lendo e escrevendo aos seus alunos, fará com que seus alunos entendam a importância e complexidade destes atos e sintam-se cada vez mais estimulados e desafiados a descobrirem as funções sociais e culturais da linguagem. E para este fim, para ajudar no desempenho desta atividade que enfatizamos a utilização dos contos de fadas nas salas de aula.


BIBLIOGRAFIA

TEBEROSKY, Ana. Aprender a ler e escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: 2003.

REVISTA NOVA ESCOLA ANO XX, Nº 187

RAMALHO, Lisete Siqueira; SANTOS, Isabel de O. Souza dos. O papel do ambiente alfabetizador no processo de aprendizagem. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), Faculdade Sumaré: 2007.

Webgrafia

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